Dia do Sorvete: Como Negócios Familiares Moldam o Mercado de Sorvetes no Brasil

Dia do Sorvete: Como Negócios Familiares Moldam o Mercado de Sorvetes no Brasil

História e raízes do sorvete no Brasil

O Dia do Sorvete, comemorado em 23 de setembro, é mais que uma data no calendário; é um convite para lembrar de como o doce gelado chegou ao nosso país. A primeira pista vem da Europa do século XIX, quando cafés de São Paulo e Rio de Janeiro começaram a servir pequenas porções de gelo batido com leite e açúcar. A prática logo ganhou força nas confecções locais, onde mães e avós improvisavam receitas usando gelo, farinha de arroz e frutas da época.

Foi só em 1941 que o cenário mudou de forma definitiva: a fábrica U.S. Harkson inaugurou a primeira produção industrial de sorvete, trazendo máquinas que congelavam rapidamente a mistura. Esse salto tecnológico permitiu que o sorvete deixasse de ser um luxo de poucos e se tornasse acessível ao trabalhador urbano.

Mas, apesar da industrialização, o coração do setor continuou pulsando nas mãos de famílias que mantiveram viva a tradição artesanal. Em Salvador, a Sorveteria da Ribeira abre as portas em 1931 e, até hoje, oferece mais de sessenta sabores, muitos deles inspirados na culinária baiana, como tapioca e coco verde. Cada pote carrega histórias de avós que aprendiam a bater gelo na calha da casa e de filhos que, décadas depois, investem em máquinas de baixa pressão para garantir a textura cremosa.

No Norte, a Sorveteria Cairu, em Belém, virou ponto de referência cultural. Lá, o açaí, o bacuri e o cupuaçu são transformados em sorvetes que lembram a mata amazônica. A visita ao estabelecimento se tornou quase um ritual turístico, e o próprio prédio foi tombado como patrimônio histórico da cidade.

Negócios familiares que impulsionam o setor

Negócios familiares que impulsionam o setor

Nos últimos anos, a cena ganhou novos protagonistas. São Paulo viu surgir o Santin Gelato Artesanal, em Ubatuba, que combina o legado italiano do gelato com ingredientes tropicais como maracujá e jabuticaba. O reconhecimento internacional, com o prêmio Traveller's Choice, mostra que a criatividade familiar pode atravessar fronteiras.

Em Curitiba, a Bapka demonstra como a tecnologia pode caminhar ao lado da tradição. Fundada em 1993, a empresa produz até 3.000 litros por hora, mas ainda mantém a receita de base artesanal que dá ao sorvete seu sabor inconfundível. Essa mistura de produção em massa e qualidade artesanal permite que a marca abasteça supermercados nacionais e, ao mesmo tempo, mantenha lojas próprias que lembram as sorveterias de bairro.

Esses exemplos revelam uma tendência: o mercado de sorvete brasileiro, agora avaliado em mais de um bilhão de dólares, depende tanto de pequenas lojas de esquina quanto de fábricas com linhas de produção avançadas. O consumo per capita tem subido, impulsionado por inovações como pistache de origem local, sorvete vegano à base de leite de castanha e até opções com álcool para adultos.

O ponto crucial é que, embora os números mostrem um setor em expansão, a alma do negócio ainda vive nas histórias familiares. Cada geração adapta a receita ao paladar da época, mas nunca abandona a essência: proporcionar um momento refrescante e prazeroso. No próximo Dia do Sorvete, ao provar um picolé de cupuaçu ou um copo de gelato de nêspera, o consumidor está, na verdade, saboreando quase um século de dedicação familiar ao Brasil.

20 Comentários

  • Murillo Assad
    Murillo Assad

    O sorvete brasileiro é um dos poucos lugares onde a gente ainda vê família, tradição e um pouco de magia misturados em um pote. Tudo isso por menos de R$10? Isso é amor, não é negócio.

  • Marcos Suliveres
    Marcos Suliveres

    Só de pensar que o açaí virou sorvete e virou patrimônio cultural... 🤯 A Amazônia tá dentro do nosso paladar, e ninguém nem percebeu. A gente come e esquece que é história viva. 🍦🌿

  • João Paulo Moreira
    João Paulo Moreira

    eles falam de sorvete artesanal mas na verdade é só marketing, todo mundo usa corante e aromas baratos, só que chama de 'natural' pra vender mais

  • Bruno Pacheco
    Bruno Pacheco

    a gente chama de tradição mas na verdade é só falta de inovação... se fosse verdadeiramente cultural, a gente já teria sorvete de feijoada ou de pão de queijo

  • renato cordeiro
    renato cordeiro

    A constituição do mercado de sorvetes no Brasil, embora aparentemente fragmentado, revela uma estrutura de valorização simbólica profundamente enraizada na memória coletiva, cuja expressão material se dá por meio da continuidade geracional das práticas artesanais.

  • Gessica Ayala
    Gessica Ayala

    O que me fascina é como o sorvete se tornou um vetor cultural de resistência: enquanto o mundo acelera, essas sorveterias mantêm o ritmo lento da mão, do tempo, da repetição com propósito. É anti-capitalismo com calda de caramelo.

  • Mario Lobato da Costa
    Mario Lobato da Costa

    tudo isso é besteira, o verdadeiro sorvete é o da esquina que a gente comia na infância, não esse negócio de gelato com jabuticaba que custa 30 reais

  • Leonardo Rocha da Silva
    Leonardo Rocha da Silva

    eu chorei quando vi que o cupuaçu virou sorvete... não porque é bom, mas porque agora é um símbolo... e eu não sei se isso é lindo ou triste...

  • Fabio Sousa
    Fabio Sousa

    isso aqui é o que o Brasil tem de melhor: gente simples fazendo algo incrível com pouco. Ninguém teve bolsa, ninguém fez MBA, mas virou referência nacional. A gente precisa de mais disso, não de mais burocracia.

  • Thiago Mohallem
    Thiago Mohallem

    só mais um negócio que virou moda pra gente gastar dinheiro fingindo que é cultural

  • Gabrielle Azevedo
    Gabrielle Azevedo

    A análise superficial da narrativa de tradição oculta a precarização das condições de trabalho nas sorveterias familiares. A romantização do empreendedorismo doméstico é uma forma de invisibilizar a exploração.

  • Camila Costa
    Camila Costa

    brasil é o unico pais que transforma fruta em sorvete e ainda acha que é revolução... nos eua eles fazem sorvete de bacon e ninguem fala nada

  • Getúlio Immich
    Getúlio Immich

    vai na sorveteria da ribeira e pede o coco verde... se não chorar de saudade, você nunca teve infância

  • Bruno Rodrigues
    Bruno Rodrigues

    o sorvete brasileiro é um ato de resistência cultural. Quando você prova o bacuri, você está consumindo uma forma de memória indígena que o mercado global tenta apagar. 🌿🍦

  • Guilherme Silva
    Guilherme Silva

    aí você vê uma loja com 60 sabores e pensa: isso é arte. Mas na verdade é só excesso. Menos é mais, e o mercado tá cheio de opções que ninguém pediu.

  • MARIA AUXILIADORA Nascimento Ferreira
    MARIA AUXILIADORA Nascimento Ferreira

    EU SABIA QUE ISSO IA VIRAR MODA! EU AVISEI QUE O AÇAÍ IA VIRAR SORVETE E TUDO MUNDO RIU DE MIM! AGORA TODO MUNDO FALA QUE É TRADIÇÃO! EU TINHA RAZÃO! 🌊🍦💔

  • Ernando Gomes
    Ernando Gomes

    Será que a industrialização realmente democratizou o sorvete, ou apenas criou uma nova forma de exclusão? Aqueles que não conseguem pagar pelo ‘artesanal’ ainda são excluídos da experiência, mesmo que o preço tenha caído.

  • Jorge Felipe Castillo Figueroa
    Jorge Felipe Castillo Figueroa

    você acha que é só sorvete? é mais que isso. é o povo brasileiro fazendo o que sabe fazer melhor: transformar o simples em algo que faz a gente sorrir. mesmo que o mundo esteja caindo, tem um copo de sorvete que ainda tá lá. 🤝🍦

  • Filipe Castro
    Filipe Castro

    só quero um sorvete de guaraná que não custe 25 reais

  • Cleverson Pohlod
    Cleverson Pohlod

    eu fui na sorveteria da Ribeira no ano passado e pedi o tapioca... o cara me olhou como se eu tivesse pedido um sorvete de cimento. Mas quando provou, ele me abraçou. Disse que era a primeira vez que alguém lembrava daquele sabor. Aí eu chorei. Não por causa do sorvete. Porque o Brasil ainda tem lugares assim.

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