PF prende presidente da Alerj com R$ 90 mil em espécie por vazamento sobre operação contra Comando Vermelho

PF prende presidente da Alerj com R$ 90 mil em espécie por vazamento sobre operação contra Comando Vermelho

A Rodrigo Bacellar de Almeida, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi preso na manhã de quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, na sede da Polícia Federal na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O motivo? Vazar informações sigilosas sobre uma operação contra o Comando Vermelho — e levar no carro oficial R$ 90 mil em dinheiro vivo. Nada de cena de filme. Foi real, frio e institucionalmente chocante. A prisão, cumprida com mandado do ministro Alexandre de Moraes, marca um dos casos mais graves de obstrução à justiça envolvendo um presidente de assembleia legislativa no Brasil nos últimos anos.

Um convite que virou prisão

A Polícia Federal não foi até a casa de Bacellar. Não foi com sirenes, nem com helicópteros. Foi com um convite. O superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, convidou formalmente o deputado para uma reunião na manhã de 3 de dezembro. A estratégia? Evitar espetacularização. Mas o que parecia um encontro técnico virou audiência de custódia. Ao chegar, Bacellar foi imediatamente detido. Na mesma hora, agentes revistaram seu veículo — e encontraram R$ 90.000 em notas de R$ 50 e R$ 100, todas embrulhadas em plástico, como se tivessem sido contadas com cuidado. Nada de caixa de pão de forma. Nada de esconderijo. O dinheiro estava no banco traseiro. Como se fosse um troco de mercado.

O aviso que mudou tudo

As investigações da Delegacia de Repressão às Entorpecentes (DRE) apontam que Bacellar, deputado pelo União Brasil, ligou para Thiago Henrique Peixoto, o ex-deputado conhecido como TH Joias, horas antes da operação que o levaria à prisão. O alerta foi claro: "Mandados de prisão foram expedidos. Limpe sua casa. Destrua tudo." O que aconteceu em seguida foi descrito em vídeos e depoimentos: Peixoto contratou um caminhão baú e retirou de sua residência tudo que pudesse ligá-lo a atividades criminosas — inclusive, segundo relatos, "várias peças de picanha". Sim, picanha. Um vídeo enviado por Peixoto a Bacellar mostra o ex-deputado lamentando, quase com humor negro, ter deixado "tanta carne" na casa. O que parecia piada virou prova concreta de obstrução.

Peixoto foi preso em um endereço alternativo, já que o original havia sido esvaziado. A operação, que deveria ser surpresa, virou um jogo de xadrez. E Bacellar estava no tabuleiro, movendo peças. O celular dele, apreendido na prisão, contém mensagens, ligações e vídeos que agora são analisados pelo Ministério Público Federal. A PF diz que o conteúdo é "incontestável".

Operação Zargun: o escândalo que vai além de um deputado

Operação Zargun: o escândalo que vai além de um deputado

A prisão de Bacellar é apenas uma peça da Operação ZargunRio de Janeiro. Lançada pela DRE em parceria com o MPF, a operação resultou em 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão. O valor total dos bens sequestrados? R$ 40 milhões. Entre eles, imóveis, veículos, contas bancárias e até joias que, segundo a PF, estavam ligadas a financiamento de atividades do Comando Vermelho. O ministro Alexandre de Moraes também expediu oito mandados de busca — um deles no próprio gabinete de Bacellar na Alerj. O que foi encontrado? Documentos, agendas e um caderno com nomes e códigos que ainda não foram totalmente decifrados.

É raro ver um presidente de assembleia legislativa sendo acusado de auxiliar um criminoso a fugir da justiça. Mais raro ainda é ver o Supremo Tribunal Federal atuando com tamanha rapidez e precisão contra um membro do Poder Legislativo. O caso põe em xeque não só a integridade de Bacellar, mas a própria credibilidade das instituições estaduais. Como um homem que assina leis contra o crime pode, ao mesmo tempo, proteger quem o comete?

Reações e implicações políticas

A reação da Alerj foi silenciosa. O presidente da casa, que era Bacellar, foi afastado automaticamente por força da lei. O vice, José Luiz da Silva, assumiu interinamente, mas evitou comentários públicos. Partidos da base governista, como o União Brasil, se limitaram a dizer que "a justiça deve ser feita". A oposição, por outro lado, pediu investigação parlamentar. "Isso não é corrupção comum. É traição institucional", afirmou a deputada estadual Cláudia Lemos, do PSOL.

Na sociedade, o impacto foi imediato. Nas redes sociais, a hashtag #BacellarTraidor viralizou. Em favelas da Zona Oeste, moradores comentavam: "Se até o deputado que deveria proteger a gente está do lado dos bandidos, quem mais está?". A PF não confirmou se Bacellar teria recebido propina, mas o dinheiro encontrado no carro, somado ao fato de ele ter sido o único deputado estadual a ser preso em operação contra o Comando Vermelho, levantou suspeitas de financiamento ilícito.

O que vem a seguir

O que vem a seguir

A investigação continua. A DRE ainda não divulgou nomes de todos os envolvidos, mas fontes próximas à operação afirmam que há mais nomes de políticos, policiais e empresários na mira. O ministro Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo telefônico e bancário de mais cinco pessoas. A audiência de instrução de Bacellar está marcada para 17 de dezembro. Se condenado, ele pode pegar até 12 anos por obstrução de justiça e associação criminosa.

Enquanto isso, a Alerj passa por uma reforma administrativa. O gabinete de Bacellar foi lacrado. O celular dele, apreendido, foi encaminhado ao Laboratório de Informática Forense do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. E o dinheiro? Foi depositado em conta judicial. Ainda não se sabe se será usado para financiar programas de segurança pública — ou se ficará lá, como um lembrete de que o poder, quando corrompido, não protege ninguém.

Frequently Asked Questions

Como o dinheiro encontrado no carro de Bacellar pode ser usado contra ele no processo?

O valor de R$ 90 mil não é, por si só, prova de corrupção, mas sua presença em um veículo oficial, sem declaração de origem, é um indício grave. A PF já solicitou a análise dos movimentos bancários de Bacellar nos últimos 12 meses. Se não conseguir comprovar a origem legal do dinheiro, o valor pode ser considerado fruto de atividades ilícitas, o que aumenta a pena por enriquecimento ilícito. O Ministério Público já pediu a prisão preventiva por esse motivo.

Por que o ministro Alexandre de Moraes está diretamente envolvido nesse caso?

Moraes atua como relator de ações que envolvem obstrução de justiça e crimes contra o Estado. Como o vazamento de informações sigilosas sobre operações contra facções criminosas afeta a segurança nacional, o STF tem competência para julgar esse tipo de crime. Além disso, Moraes já havia autorizado mandados em outras etapas da Operação Zargun, o que torna sua atuação contínua e estratégica.

O que acontece com a Alerj agora que seu presidente foi preso?

O vice-presidente, José Luiz da Silva, assume interinamente até a eleição de um novo presidente, que deve ocorrer em até 60 dias. Enquanto isso, todas as decisões do plenário precisam de quórum qualificado. A presidência da Alerj está sob supervisão do Tribunal de Contas do Estado, que já abriu um inquérito para investigar gastos e contratos feitos por Bacellar nos últimos dois anos.

Thiago Henrique Peixoto (TH Joias) também será julgado por tentativa de obstrução?

Sim. Além de ser preso por associação ao Comando Vermelho, Peixoto responde por obstrução de justiça, destruição de provas e uso de veículo para transporte de bens ilícitos. O vídeo que ele enviou a Bacellar, mencionando a "picanha", foi classificado pela PF como "prova irrefutável de intenção de eliminar evidências". Ele já foi encaminhado ao Presídio da Ilha de Gato, em Niterói, e pode receber pena de até 8 anos.

Essa operação pode afetar as eleições de 2026 no Rio de Janeiro?

Com certeza. A prisão de um presidente da Alerj por ligação com facção criminosa é um golpe sem precedentes na política fluminense. Partidos estão reavaliando suas coligações. Eleitores já demonstram desconfiança em candidatos com vínculos com a Alerj. A PF e o MPF afirmam que não há pressa, mas que a investigação pode revelar mais nomes antes das eleições — o que pode desestabilizar candidaturas inteiras.

O que a Operação Zargun revela sobre o poder do Comando Vermelho no Rio?

A operação mostra que o Comando Vermelho não só opera nas favelas, mas tem influência em esferas políticas e administrativas. A apreensão de R$ 40 milhões, a ligação de políticos e a existência de redes de financiamento indicam que a facção é mais uma organização criminosa complexa do que um simples grupo de traficantes. A PF acredita que o dinheiro sequestrado era usado para comprar apoio político, comprar silêncio e financiar armas — e que Bacellar foi apenas o primeiro de muitos a serem desmascarados.

1 Comentários

  • Matheus D'Aragão
    Matheus D'Aragão

    Isso é o que acontece quando a política vira um reality show de corrupção. O dinheiro no banco traseiro? Pura falta de vergonha.

Escreva um comentário