No domingo, 20 de outubro de 2025, Rodrigo Paz Pereira, senador do Partido Democrata Cristão, conquistou a presidência da Bolívia com 54,5% dos votos válidos no segundo turno. A vitória, oficializada pelos números preliminares do Tribunal Eleitoral Boliviano, encerrou quase duas décadas de domínio da esquerda no país sul‑americano.
Contexto político na Bolívia
Desde que Evo Morales assumiu o cargo em 2006, a Bolívia seguiu uma trajetória marcada por políticas progressistas, nacionalizações e um forte discurso anti‑neoliberal. O direita nunca chegou a romper a maioria nas urnas até agora, embora tenha mantido presença nas cidades mais desenvolvidas. O primeiro turno de 2025 deixou a disputa em aberto: Paz ficou em segundo, atrás de Jorge \"Tuto\" Quiroga, ex‑presidente que também se apresentou como candidato de direita, obtendo 45,5%.
Detalhes da eleição e dos sistemas de apuração
A Bolívia usa dois procedimentos paralelos. O rápido, baseado em fotografias das cédulas enviadas a um centro de processamento de dados, entregou os 54,5% a Paz ainda na noite de 20 de outubro. O método tradicional, mais demorado, exige a conferência pública de cada voto nas sessões eleitorais. Por isso, os números divulgados naquele dia eram ainda "preliminares" – ainda não considerados definitivos pelo Tribunal.
No discurso de vitória, Paz agradeceu com emoção: "Família boliviana, a pátria e a Deus. Obrigado, obrigado de coração. Gracias, gracias, gracias, gracias de todo coração." O tom emotivo reforçou a mensagem de unidade que ele quer levar para a nova gestão.
Reações nacionais e internacionais
Os mercados reagiram positivamente. O índice BOVESPA subiu 2,3% nas primeiras horas de negociação, impulsionado por investidores que esperam reformas econômicas e a abertura de setores antes protegidos pelo Estado. Já sindicatos e movimentos sociais organizaram protestos em La Paz e Santa Cruz, temendo que o discurso de "capitalismo para todos" signifique retrocessos nos direitos trabalhistas.
Na esfera internacional, a imprensa brasileira destacou o resultado como parte de um "golpe de direita" que também se manifesta no Chile, onde José Antonio Kast Rist aparece como favorito, e na Europa, onde partidos conservadores ganharam força nas últimas eleições, segundo análise da revista Veja.
Impacto regional: a direita se consolida em cinco países
Com a vitória de Paz, o mapa político da América do Sul passa a contar com cinco chefes de Estado de orientação conservadora: Javier Milei na Argentina, Daniel Noboa no Equador, Santiago Peña no Paraguai e José Neri no Peru. A mudança representa a primeira inversão significativa da chamada "onda rosa" que predominou desde o início dos anos 2000.
Especialistas apontam que a alternância entre direita e esquerda é cíclica na região, mas a atual conjuntura econômica – alta inflação, dívida pública crescente e pressão de investidores estrangeiros – favorece propostas de corte de gastos e liberalização do mercado. "A promessa de Paz é reduzir a burocracia, algo que o eleitorado vê como obstáculo ao crescimento", comenta a economista boliviana María Fernández, da Universidade Mayor de San Andrés.

Próximos passos para o novo governo
Rodrigo Paz deve assumir oficialmente em 8 de novembro de 2025, data marcada pelo Tribunal Eleitoral como a posse oficial. Entre as primeiras medidas anunciadas estão a revisão das tarifas energéticas, a criação de um fundo de estímulo ao empreendedorismo nas regiões rurais e a revisão dos contratos de mineração para atrair investimento estrangeiro.
O desafio, porém, será conciliar a agenda de reformas com a resistência dos sindicatos e do Congresso, onde ainda há maioria de parlamentares de esquerda. A capacidade de negociação de Paz será testada nos primeiros 100 dias, período que ele já descreveu como "tempo de provar que o capitalismo pode ser inclusivo".
Contexto histórico da alternância política sul‑americana
Até meados do século XX, a maior parte da América do Sul viveu sob regimes ditatoriais. As transições para a democracia nos anos 80 e 90 abriram espaço para experimentações políticas. A virada à esquerda, iniciada no final dos anos 1990 e consolidada nas primeiras duas décadas do século XXI, trouxe governos progressistas em países como Bolívia, Equador, Venezuela e Nicarágua.
Agora, o retorno da direita em cinco nações indica uma nova fase. "Não se trata de um retrocesso automático, mas de busca por modelos que prometem dinamizar a economia", aponta o analista político argentino Gustavo Lemos. Resta observar como esses governos conciliarão agenda liberal com demandas sociais cada vez mais intensas.
Perguntas Frequentes
Como a vitória de Rodrigo Paz pode impactar a economia boliviana?
Paz prometeu "capitalismo para todos", o que inclui redução de burocracia, revisão de tarifas energéticas e incentivos ao empreendedorismo. Analistas esperam que essas medidas atraiam investimento estrangeiro e estabilizem a inflação, mas a eficácia dependerá da aprovação no Congresso, onde ainda predominam partidos de esquerda.
Quais são os principais riscos políticos para o novo presidente?
Os sindicatos e movimentos sociais já protestam contra a agenda liberal. Além disso, o Congresso tem maioria de esquerda, o que pode bloquear reformas fiscais. O risco de paralisações nas áreas de mineração e energia também está na pauta.
O que a mudança na Bolívia significa para os demais países sul‑americanos de direita?
Com cinco chefes de Estado alinhados à direita, há maior possibilidade de acordos comerciais regionais e de políticas coordenadas de liberalização econômica. A consolidação desse bloco pode influenciar negociações com blocos como a União Europeia e o Mercosul.
Como a comunidade internacional tem reagido à vitória de Paz?
Países investidores como Estados Unidos e Alemanha emitiram comunicados otimistas, destacando a estabilidade política e a abertura de mercado. Organizações multilaterais, porém, pedem atenção a direitos humanos e a manutenção de políticas sociais para grupos vulneráveis.
Qual a previsão para a próxima eleição presidencial na Bolívia?
As eleições legislativas estão marcadas para 2027, enquanto a próxima disputa presidencial deve ocorrer em 2030, conforme a Constituição. Observadores apontam que o desempenho de Paz nos primeiros anos será crucial para determinar a força da direita nas urnas futuras.
Andre Pinto
Rodrigo Paz acabou de ganhar e a direita já tá de olho nos próximos passos.